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ago 14, 2024

Como a Disciplina Positiva pode nos auxiliar na criação de nossas crianças?

AUTOR

Luana Pizarro

ASSUNTO

Educação

TEMPO DE LEITURA

5 min

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Verbo Ser

Que vai ser quando crescer?
Vivem perguntando em redor. Que é ser?
É ter um corpo, um jeito, um nome?
Tenho os três. E sou?
Tenho de mudar quando crescer?
Usar outro nome, corpo e jeito?
Ou a gente só principia a ser quando cresce?
É terrível, ser? Dói? É bom? É triste?
Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas?
Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.  
Que vou ser quando crescer?
Sou obrigado a? Posso escolher?
Não dá para entender. Não vou ser.
Vou crescer assim mesmo. Sem ser. Esquecer.

Carlos Drummond de Andrade

 

Acho que podemos começar esta explanação entendendo o formato das famílias e suas transformações ao longo do tempo. 

Referidas pelos discursos socialmente predominantes ao longo dos tempos, as crianças encarnaram valores distintos e, consequentemente, ocuparam diferentes posições nas famílias. Na Europa, a partir do século XVII, tão logo as crianças nasciam eram levadas para ser amamentadas e cuidadas por amas de leite, retornando para casa, se vingassem, alguns anos depois. No entanto, a taxa de mortalidade das crianças cuidadas pelas amas de leite era alta e, pela necessidade de densidade demográfica para desenvolvimento das cidades, autoridades da época passaram a incentivar as famílias a proporcionar os cuidados de suas crianças desde seu nascimento.

Com as crianças crescendo no seio da família, as relações de afeto se estreitaram e mais investimentos foram sendo direcionados a elas. Indo um pouco adiante, por volta dos anos de 1760 a 1770, o lugar da criança na família começou a ter destaque, a partir de obras que incitavam o amor materno como a base das famílias, dando início a era da família moderna (Badinter, 1985).

Entendemos que muitas foram as formatações familiares possíveis em cada época da história e, hoje, nos parece que, um importante ponto vem trazendo impacto nas relações familiares, e na busca por melhores estratégias na criação dos filhos, a horizontalização das famílias.

Em busca de uma experiência positiva na educação de suas crianças, bem como de proporcionar às crianças todo respeito que elas merecem, muitas famílias vêm se estruturando de maneira horizontal e se perdendo nesta estrutura. A relação familiar horizontal, muitas vezes ocupa um lugar de objeto de desejo parental em uma era de exposição e consumo digital.

Para além do que se pode consumir em redes sociais, adotamos e indicamos o consumo de livros sobre o referencial teórico da Disciplina Positiva pois, conseguimos observar na prática sua condução, bem como vivenciar a resposta das crianças a esta metodologia que rege nossos cuidados enquanto escola.

A Disciplina positiva, orienta adultos a educarem as crianças com firmeza e gentileza, fazendo uso destes 2 conceitos ao mesmo tempo, em todas as abordagens, ensinando assim, habilidades sociais e de vida (Nelsen, 2015). 

Esta tarefa pode não ser fácil para toda uma geração que não teve este tipo de criação, mas com algum estudo e empenho, podemos achar um meio termo entre a permissividade e a punição.

Entendemos então que, a Disciplina Positiva nos convoca a refletir sobre hierarquia e estrutura familiar, pois para que haja educação, é necessário um responsável por cuidar e educar, além  de uma criança com necessidades de cuidado e orientação. Os adultos são os responsáveis por este processo e isto, por si só, verticaliza as relações.

Quando somos responsáveis por uma criança, está implícita uma relação verticalizada e talvez seja importante discernir a verticalização da imposição e da falta de diálogo. Ser responsável pela educação de uma criança é ter maturidade e respeito por ela a ponto de diferenciar situações nas quais a criança tem segurança de decidir e executar sozinha, quando sua ajuda é necessária ou quando ela não é capaz de decidir e precisa que você, a protegendo, decida por ela. Este discernimento tem a capacidade de trazer segurança para  as crianças, elas são respeitadas e protegidas por um adulto responsável.

Mas e o psiquismo? Quais são os impactos da criação na constituição psíquica de nossos pequenos? Pois bem, as crianças se constituem a partir de suas relações, desde que nascem, necessitam dos cuidados que recebem e, a partir destas relações, vão se constituindo e aprendendo a se relacionar. 

Os primeiros cuidados ficam mais restritos ao núcleo familiar, depois entra a rede de apoio, serviços de creches e um pouco mais adiante, vem a escola. Cada etapa de cuidado e acolhimento é extremamente importante para que a criança se subjetive de maneira saudável. Quando temos firmeza e gentileza, desde o início, temos crianças se constituindo autônomas e seguras, esta é a nossa aposta!

Pensando nas relações de cuidado como a base constituinte das crianças, conseguimos compreender porque as crianças são o espelho das relações que vivenciam e, desta maneira, constroem suas demais relações, tendo como base aquelas primeiras estabelecidas. Portanto, cabe aqui a pergunta: Qual tipo de relação você deseja que suas crianças construam? 

Concluímos que o desenvolvimento da civilização, tem vários recortes, além das mudanças das relações familiares, observamos as transformações das relações de trabalho e estilos de liderança, entre muitos outros. Porém,  aqui, o recorte que nos interessa é a educação. E, nos aprofundando neste desenvolvimento, percebemos como a visão contemporânea de educação traz mais frutos para crianças e suas famílias, quando atravessada pela abordagem da Disciplina Positiva, promovendo disciplina, acolhimento, amor, desenvolvimento psíquico e autonomia para nossas crianças.